“A prática não pode ser centrada na teoria e na técnica, o atendimento do SUS tem que ser um encontro interativo entre o profissional e o usuário.” É desta forma que pensa o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Ricardo Ceccim, sobre as novas formas de atendimento na rede pública de saúde. Ricardo coloca aspectos da relação entre profissional e paciente na palestra ministrada na Oficina de Educação Permanente em Saúde para técnicos da Secretaria de Saúde da capital e do interior, que acontece no auditório do Hotel Cabana nesta sexta e sábado, na BR 316, em Teresina. O palestrante deu exemplos de como melhorar o atendimento no SUS. Para ele, é preciso ter uma interação entre os profissionais e as unidades de saúde. O professor acha que a rede pública deve dar maior atenção aos usuários, com a humanização dos serviços e as particularidades das comunidades. Para explicar ele cita o exemplo da disponibilidade de horário dos pacientes e do atendimento das unidades básicas de saúde. “A unidade de saúde abre às 7h e fecha às 17h. No começo da manhã as pessoas vão trabalhar e só voltam depois das 18h. Com isso, elas dispõem de atendimento médico perto de casa, mas no horário em que estão o trabalho”. Devido a este fato, o professor Ricardo explica que essa é uma das grandes causas de superlotação dos hospitais de urgência, já que é nestes locais que há disposição atendimento no horário da noite. Outro fator a ser agregado ao sistema de saúde é a humanização dos serviços. Ricardo fala que profissional em saúde não pode ver o paciente como mais um entre tantos pacientes. Por isso deve ser feito um acompanhamento mais intenso com as pessoas que freqüentam o hospital, sem apenas para encaminhar para outro hospital ou médico. Um exemplo colocado são as pacientes que fazem pré-natal em uma unidade de saúde e fazem o parto em outro hospital, com outra equipe, que não acompanhou a gravidez. Ricardo acha que deve ter um diálogo entre os profissionais dos dois espaços de saúde, para ter um acompanhamento mais próximo das pacientes. “As gestantes de primeira viagem, por exemplo, ficam apavoradas com a idéia do parto e o fazem com uma equipe que não acompanhou em nenhum momento da gravidez” – acrescenta. A oficina é uma realização da Secretaria Estadual de Saúde, atendendo à Política Nacional de Educação Permanente, que visa aprimorar o atendimento do SUS. O organizador do evento, psicólogo Leonardo Sales, fala que a oficina é a primeira fase do projeto de educação permanente no Estado, no segundo semestre, a Secretaria de Saúde vai realizar onze oficinas nas microrregiões, para capacitar um maior número de pessoas no interior do Estado. Leonardo Sales explica que a educação permanente prioriza a discussão de quatro segmentos da sociedade para discutir e direcionar as ações em saúde na comunidade: comunidades, instituições de ensino superior, profissionais da rede de atenção à saúde e gestores locais, estaduais e federais. “Nós precisamos unir as forças de todas as pessoas que fazem o quadrilátero para melhorar o SUS e o atendimento à população” – afirma. O organizador diz que muitas vezes o acúmulo de cursos e diplomas não são inovadores das práticas de saúde. Para ele, encontros constantes da equipe das unidades de saúde para discutir as práticas são fundamentais para promover a educação permanente e, assim, a melhoria do sistema. Nessas reuniões, é preciso que os profissionais possam se conhecer melhor, que eles elejam temáticas pertinentes para discutir assuntos acerca do trabalho desenvolvido e conhecer o fazer dos companheiros de trabalho. “O médico ou o enfermeiro precisam se interar mais com as atividades do psicólogo, da nutricionista etc. Com a interação constante dos profissionais teremos maior proximidade entres os profissionais, com os pacientes e, assim, teremos um sistema dinâmico e de qualidade” – conclui. Iane Carolina