Até bem pouco tempo, quem sofria de problemas auditivos no Piauí não sabia a quem recorrer. Para receber um aparelho auditivo então, o problema era bem maior. É para resolver esses problemas e garantir um atendimento integral à população, que a Secretaria Estadual de Saúde vem trabalhando nos últimos anos. Além da Triagem Auditiva (Teste da Orelhinha), implantado em 2005, agora o Estado conta com serviços de média e alta complexidade que atendem e dispensam, pelo SUS, aparelhos auditivos para pessoas com perdas auditivas. A Política Estadual de Saúde Auditiva está sendo implantada em formato de rede, atendendo os princípios da descentralização dos serviços. Hoje no Piauí, uma pessoa com deficiência auditiva tem direito não só a prótese auditiva, mas de receber o tratamento integral, que vai desde o trabalho de diagnóstico, até o de reabilitação, através da concessão da prótese, caso seja necessário. A Coordenadora Estadual de Atenção à Saúde da Pessoa Portadora de Deficiência, Gardênia Val explica que a implantação da nova Política é resultado de três portarias que foram publicadas em final de 2004 pelo Ministério da Saúde que definem tanto a Política Nacional de Saúde Auditiva, quanto à organização das redes e os procedimentos que o Estado deve adotar. “O que tínhamos antes era um serviço pouco conhecido e organizado, que atendia basicamente a cidade de Teresina. As pessoas não sabiam a quem recorrer e o que existia era praticamente apenas a dispensação da prótese. O que temos hoje no Estado é um processo organizado, que vai desde a promoção à saúde auditiva, até o acompanhamento integral de quem precisa do aparelho”, destaca Gardênia Val. Ela ressalta que o processo teve início em 2006, quando foi credenciada pelo Ministério da Saúde uma clínica de Teresina como serviço de referência de média complexidade em saúde auditiva. Pessoas com deficiência auditiva ou suspeita de perda auditiva são encaminhadas a esse serviço na faixa etária de três anos completos até 100 anos ou mais. Para isso, a pessoa deve juntar documentação necessária, cópias da Identidade e CPF, cartão SUS, comprovante de residência, sendo que para quem mora na zona rural o comprovante deve ser uma declaração do delegado de polícia do município ou do sindicato dos trabalhadores rurais. Além disso, é preciso o encaminhamento de um médico do SUS, que não precisa ser otorrinolaringologista e pode ser do PSF, o que facilita o acesso da população do interior. O mais importante é que as pessoas não precisam dar entrada ao processo em Teresina. Basta entregar toda documentação na Secretaria de Saúde do seu município, que encaminha para a Central de Regulação do Estado. Esta, por sua vez, agenda o atendimento no serviço de referência. Na clínica a pessoa passa por toda uma equipe multiprofissional, se consulta com especialista e faz uma avaliação fonoaudiológica. “Na clínica as pessoas fazem os exames especializados pelo SUS e se for detectada necessidade de um aparelho auditivo, a pessoa já é encaminhada para os testes, faz os moldes e recebe o aparelho. Nosso fluxo é rápido e não temos filas. Todas as pessoas testam três aparelhos e o paciente recebe o que for mais adequado a sua necessidade”, garante Val. Alta complexidade Os pacientes nos primeiros anos de vida também já podem contar com o atendimento integral em saúde auditiva. No mês passado, o Ministério da Saúde credenciou o serviço auditivo da alta complexidade, que vai atender as crianças de zero a três anos. Por esse novo serviço, crianças com perda auditiva associadas a problemas neurológicos, visuais e outros podem recorrer ao SUS, que através da clínica credenciada para oferecer o serviço vão receber todo o acompanhamento necessário. A coordenadora ainda chama atenção para a importância da prevenção e da promoção à saúde. “A Secretaria Estadual de Saúde está se preparando para capacitar os agentes de saúde para que eles possam ser os veículos de orientação das famílias. Elaboramos um material que deverá ser divulgado pelas equipes de atenção básica sobre os fatores de risco que podem levar a perda auditiva e o que as famílias podem fazer para evitar esses problemas”, acrescenta Gardênia. Grande parte dos problemas auditivos mais comuns tem como fatores de risco o baixo peso infantil, as infecções na infância, rubéola durante a gestação, além do uso de drogas ototóxicas (para ouvido). “Até a própria posição de amamentação, se incorreta, pode gerar problemas auditivos. Por isso, é importante que os agentes de saúde e os profissionais do PSF atuem no sentido de promover a saúde preventiva. Por outro lado, um dos nossos objetivos agora é descentralizar a Triagem Auditiva Neonatal, que detecta problemas auditivos no recém-nascido. Ela é importante porque esses problemas, quando detectados cedo podem ser tratados e a criança poderá ter uma vida o mais normal possível”, diz Gardênia Val. Mensalmente, a Maternidade Dona Evangelina Rosa realiza cerca de 400 Testes da Orelhinha, mas o objetivo é levar o teste para as macro-regiões do Estado. “Antes disso precisamos fortalecer os serviço de referência na Maternidade, ampliando o número de Testes feitos, já que lá nascem em média mil crianças por mês. Sabemos que de um a três crianças para cada 100 que nascem em situação de risco pode ter problema auditivo. No caso de parto de baixo risco esse índice cai de um para cada mil crianças nascidas”, conclui a coordenadora. Mais informações: Gardênia Val – 3216- 3561